quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Levo os sapatos e mais... por Carmen Monteiro

Olho pra baixo e lá estão novamente desamarrados, andando em corredores brancos de limpeza obrigatória, enquanto seus solados só fazem barulho e rastros pelos chãos imaculados.
Olho pra baixo e penso que deveria ter trocado os sapatos por algo mais confortável e menos barulhento, pois me incomodam sapatos que me embrutecem o caminhar.
"Basta a vida" é o que me vem à mente, mas pensando melhor, estou sendo dura com a vida que nem tem sido tão dura assim, não comigo, não posso reclamar, o problema é ela ser dura com os que estão à minha volta, pois esta é uma situação que não deixa de doer em mim.
Então, em adição à toda dor, lá estão estes sapatos, como extensões de meus pés, sapatos duros, barulhentos, um tanto sujos da lama feita da última pancada de chuva fora no caminho mal pavimentado até aqui.
Sei bem que o problema não são os sapatos, raramente são os sapatos o grande problema.
Porém, recorrer a culpa aos sapatos é mais um modo infantil de lidar com a dor que sinto por não poder exinguir a dor de quem sofre neste instante.
Um recebe o diagnóstico inesperado de doença grave no mesmo dia em que deveria estar no casamento da filha.
Mas que dia pra saber de um nome exato dos sintomas que vem sentindo há tantos meses! Não poderia ter piorado aquele pouco mais, dias depois? O que motivou a criação deste instante nesta vida?
Outro sente a solidão da palavra que não consegue articular. fico imaginando como será pensar e não ouvir sua própria voz. Pergunto se anda recebendo visitas da família, só pra ter o que me comunicar com ele e ter um leve entendimento do que ele ta´mbém anda absorvendo do que vive. Ele responde com os olhos vazios que sim, recebe visitas enquanto sei que a realidade é outra ao mesmo tempo penso se não serão os anjos que o visitam, afinal, eu creio em anjos.
Digo que amanhã estarei novamente com ele e que espero vê-lo melhor, mas quanto melhor poderá ficar sem conseguir verbalizar o que sente? Neste instante o que ele passa é também um pouco do que passo muitas vezes.
O outro se vê inválido em situação melhor, pois é temporária sua limitação, mas longa, o que não lhe dará outra alternativa a não ser aguardar com a paciência , que já demonstrou falência, aos longos de tantos meses acamado aguardando que seus ossos se acertem com a infecção surgida.
Falo da importância de ter algo mais a fazer além da televisão e das revistas. Saio pensando o quanto a cama incomoda e aquece as costas já aquecidas e limita particularmente o homem que não quer se reinventar quando o momento surge.
Enquanto entro e saio de quartos e vidas, os sapatos me seguem, desamarrados, ou quase, barulhentos, mas nem tanto, sujos, apesar de tê-los limpado no antigo capacho da portaria principal.
Levo junto os sapatos e as vidas que visito.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A espada de Miguel, por Carmen Monteiro

A espada de Miguel

O fato era o seguinte, a espada de Miguel era sua última esperança de mudança.
Já tinha tentado de tudo o que pudesse para que algo se movimentasse.

Acabou a manta inacabada.

Aqui abrir um parênteses é necessário:

Sentia a sua incapacidade a cada visita da manta em suas mãos doídas de frio e saudade
cada inverno que ia e vinha...
Tudo bem,
ela não desmanchava a tal manta a cada ano,
como em histórias de mitos.
Contudo,
era como se isto ocorresse,
tamanha a lentidão
para chegar ao fim do trabalho.
Quase fez promessa,
mas não foi preciso.
Tomou coragem e muita água da fonte
e acabou a manta.
Fez promessa consigo mesma
para ser feliz.
Fecha-se aqui um longo parênteses.

Plantou árvore e ainda viu os frutos crescerem.
Viu os frutos sendo comidos e
ainda previu a morte da árvore amiga.
Ninguém a ouviu e ela não teve forças para defender,
nem a árvore, muito menos a si mesma e assim,
a morte da amiga árvore se deu em pouco tempo depois.
Um pouco dela se foi ali, mas ninguém se deu conta.
Plantou no lugar de marias-sem-vergonhas,
inúmeras impatiens, primas mais elegantes e nobres,
tão coloridas quanto, mas com muito mais vontade essencial de pressa e mudança.
Porém, de nada adiantou.
As impatiens ali se aquietaram, floresceram, adormeceram
e se foram, tão coloridas como surgiram em suas caixas de mudas. Fez pão, parou de fazer pão.
Fez mudança de hábitos, e destes não abriu exceção em suas convicções.
Chamou Deus, São Longuinho, Maria, chamou tantos santos e anjos quanto seu coração se lembrasse e do quanto poderia trazer de suas memórias de menina.
Isto adiantou muito, mas não pra ela exatamente ou diretamente, isto adiantou foi pra muita gente e ali ela viu o poder de dar esperança a quem se perdeu no meio de caminhos desacertados.
Ali, ela sentiu o poder do amor que transforma e nisto ela era fiel.
Foi procurada por uns, procurou por outros e deu com a cara na porta.
Teimosa que foi, insistiu, porque afinal, era brasileira e não desistia nunca, o que afinal, era uma grande bobagem de politicada, mas ela, mesmo assim, tentou, porque acreditava na mudança e no respeito que ainda via nas relações.
Fez-se candidata do Universo, abriu-se para mudanças, percebeu a lentidão dos tempos em sintomas que seu corpo cansado, apresentou.
E aí, sem mais acreditar em nada, se manteve acreditando, pois sem acreditar não haveria porque viver e a vida era bela, mesmo assim, cheia de detalhe e digna de celebração.
E então, seguiu para a última tentativa.
A espada era grande, fálica e libidinosa se assim a pscicanálise a visse, mas ao mesmo tempo era espada e tinha função de corte. Ali embutida a sua falta de resignação e revolta pois, menina que era se contrariava em ter que pedir a tão grande homem ajuda em seus problemas.
A vontade de vida mais leve e plena a fez se manter na convicção.
Pediu com o coração todo o corte negativo que a mantinha na dor.
Pediu libertação, pediu melhora e principalmente melhora pra si mesma como ser e isto porque queria ter a esperança de ser amada por si mesma um dia e para ser amada havia de mudar, não tinha mais como adiar o que em outras vidas ela tinha tanto potencial de incendiar mudanças.
A espada luminosa se apresentou, Miguel, mais enorme que sua própria casa sorriu e manteve sua determinação:
o que pediu , será feito!
Sentiu daí leveza em seu corpo.
Os cordões negativos que a mantinham ligada a tantas outras pessoas e situações eram tão densos que pesavam em seu físico.
Viu-se leve e feliz.
Mas felicidade assim, dura pouco, o movimento de corte movimenta placas, movimenta terras e águas.
Sua felicidade e leveza era dor no corte do vício.
Pior que isto, o que pedia a Deus que fosse negativo, surgiu como algo mais fortemente insano e amado, era até capaz de ver o que naturalmente, não era passível de se perceber na luz do dia.
Era um cordão azul luminoso, de uma sutileza tão leve e forte se assim pudesse haver na Terra algo tão contraditório que nem ela mesma não tinha como absorver um entendimento. Era intenso e notadamente neutro, como era aquele sentimento verdadeiro, que nem tinha coragem de nomear.
Ao mesmo tempo, a revolta era tamanha em sua alma, pois com o corte, a principal meta era se livrar do danado que, de tão distante, se manteve também, o quanto pôde, absurdamente surdo e cego e mudo.
A certeza deste cordão sobrevivente era então, em vez de liberdade, dor,
porque percebeu que nem Miguel era capaz
de romper com sua espada o que mesmo apesar das aparências era, na verdade, não corruptível.
“E agora, Miguel?
Que faço eu, se você cortou minha última esperança?
A manta não tenho mais como continuar.
Volto então, a plantar flores, amassar pães, chamo novamente por todos os santos quantos haja neste Universo?
Aguardo a boa vontade de quem não mais enxerga a ponta de seu nariz, aquele que, sem óculos, não é mais capaz nem de pagar a conta de suas compras?
Mantenho a instigar a esperança mesmo sem acreditar na minha esperança?”
Por esta, ela não esperava, Miguel.
Nem eu.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O AZUL LHE CAI BEM , de Carmen Monteiro

O azul lhe cai bem, aliás, sempre lhe caiu.

Mangas longas também, dão muito aquele ar de respeito que tanto quer.
E assim, mesmo sem terno e gravata, você sempre se coloca aquém de qualquer contato, portanto, consegue seu intento em punhos cobertos.

O azul lhe veste bem, sempre foi assim, foi antes e será depois, bem depois que tenhamos todos morridos pela falta de fé num caminho mais ameno a seguir juntos, todos nós.

O azul lhe cobre bem, como o manto de Maria, que peço tanto que lhe acolha em todos os momentos de dor, raiva, amor e negação, minha e sua.

Sinto que Maria está mais próxima a você vestido assim de azul.

Mais próxima que eu mesma possa estar.

Que seja Ela sua guia, sua protetora e sua confidente em todas as horas de todos os momentos em que, no meio de tanta correria e referida ocupação você possa, enfim, pedir conselhos internos.

O azul lhe cai bem, aliás, sempre lhe caiu.

Pena que mesmo de azul você ainda não tenha olhos para ver quanto o azul lhe faz bem e forte pra quebrar tantos limites desnecessários aos quais se impôs.

Sorte que o azul sempre me inspira.

Pelo menos isto, nada e nem ninguém, teve forças de negar pra mim.

Nem eu mesma.

quarta-feira, 4 de março de 2009

A CAIXA PRETA, de Amós Oz

Este foi um livro que demorou a chegar em minhas mãos. Quando o desejei não pude tê-lo.
Sabe quando estamos tão repletos de livros nas estantes para ler que não podemos nos permitir nem mais unzinho, como se isto fosse o mesmo que pecar?

Pois, aprendi que quando postergamos, ou deixamos de fazer algo, mas que se mantém na mente, pecamos de algum modo também!

Claro que este não era um pecado tão grande a se considerar nunca mais pensar ou cometer.
Os grandes pecados sugiro que não cometam!

Vão se arrepender, com certeza! rs

Mas, no tempo certo, aquele que não é dos homens... o livro enfim, chegou às minhas pequenas mãos e grandes olhos...

Imagine um livro onde a tensão se corta a faca no ar enquanto se lê suas letras e entrelinhas.

Imagine um livro onde se vai conhecendo seu enredo e personagens através de cartas trocadas, cartas e alguns telegramas e só.

Imagine 5 lados ou mais de uma mesma realidade, 5 lados de dores, rancores, desentendimentos, dores disfarçadas pela frieza acadêmica e sabotagens baseadas na fé que limita, 5 lados do amor.

Imagine que o menos tem mais a oferecer e quem se ofende fácil no final, é quem mais tem pureza, amor e sabedoria para viver.

Imagine abrir a caixa, não a caixa de pandora desta vez, pois esta já foi aberta antes, mas A CAIXA PRETA.

Não a caixa preta de um avião para saber o que aconteceu em seu acidente aéreo e, sim, A CAIXA PRETA da relação entre seres que enquanto lamentam suas incompreensões mútuas se odeiam tanto quanto se amam e não conseguem seguir adiante.

Este é o livro de Amós Oz.

Esteja preparado (a) para viver nesta tensão contínua enquanto o lê.

Esteja preparado (a) para sobreviver a todo este conteúdo que pode já ter sido seu um dia em maior, menor ou igual grau.

Os que ainda não viveram isto que se protejam de todo este mal ou que se previnam antecipando possíveis fatos.

Os que estão vivendo nesta tensão que possam sobreviver lendo-se nas cartas trocadas.

Os que já viveram a maledicência de um amor nunca perdido e sempre incompreendido que pensem muito antes de abrir e seguir lendo as páginas da...

A CAIXA PRETA, de Amós Oz, da Companhia das Letras ...

Mas, a todos, desejo que se libertem da dor pois, somente livres podemos ser felizes!

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Paramahansa Yogananda, autobiografia de um iogue

Quero celebrar desta vez o momento astrológico do planeta e assim, ofereço a leitura de um grande livro grande : Paramahansa Yogananda, autobiografia de um iogue, editora sextante.
Paramahansa Yogananda foi o primeiro gran­de mestre da Índia a viver no Ocidente durante um longo período (mais de trinta anos).
Iniciou na ioga 100.000 estudantes ‑ técnicas científicas para despertar a consciência divina do homem.
Neste livro ele explica, com clareza científica, as leis sutis mas definidas pelas quais os iogues realizam milagres e alcançam o autodomínio.
Yogananda, diplomado pela Universidade de Calcutá, escreve, com inesquecível sinceridade e incisiva agudeza.
Capítulos cheios de vida são dedicados a suas visitas ao Mahatma Gandhi, a Rabindranath Tagore, a Luther Burbank e a There­se Neumann ‑ a católica estigmatizada da Bavá­ria.
É um livro foi traduzido para doze idiomas.
Paramahansa Yogananda entrou em mahásamádhi (a derradeira vez que um iogue abandona conscientemente seu corpo) em Los An­geles, na Califórnia, em 7 de março de 1952. Semanas após haver partido, sua face inalterada brilhava com o divino esplendor da incorruptibilidade.

Independente de sua crença, este livro é um exemplo de escrita, não só pela sensibilidade de quem a escreve, como também a possibilidade de conhecer mundos aos quais não deveríamos ignorar vivendo no mesmo planeta.

Sua escrita, além da sensibilidade já citada, demonstra um humor gostoso de se ler e uma imaginação e memória surpreendentes já que ele escreve sua própria história do início, da sua infância contando suas incontáveis fugas de casa em direção ao seu sonho, o sonho que tinha em seu coração.

Não é um livro para estimular o aumento dos praticantes de yoga, apesar de nos animar um tanto, é um livro que nos estimula a lembrar de nossos sonhos que possam ter ficado escondidos em nossos corações.

Este é um exemplo a ser seguido, não necessariamente relacionado a fé, mas a Vida: permitir-se seguir os caminhos que nossos corações nos oferecem é uma grande sabedoria sem dúvida alguma.

Lendo este livro estará diante de um sábio e tanto, pois estará diante de um homem que além de inteligente usa sua inteligência com Amor em letra maiúscula.

Meu convite para a leitura deste livro passa por tudo isto e muito mais.

É literatura o que terá em suas páginas e é vida verdadeira também!

Se leio e vivo, este é um bom caminho!

Sobre o momento astrológico do dia 14/02/2009 ao qual me referi, leia mais em

www.lentasrapidasluzes.blogspot.com

no texto : Só a verdadeira liberdade...

sábado, 31 de janeiro de 2009

CARTAS PERTO DO CORAÇÃO- dois jovens escritores unidos ante o mistério da criação - Fernando Sabino , Clarice Lispectos

Confesso aqui o inconfessável. Eu tenho um vício, um mal hábito, digamos assim de modo mais leve.
Um não , mas vários, mas o confessável inconfessável será este, não abrirei os outros que ainda estão em plena auto avaliação nestes bons tempos de viver mais um dia nesta vida tão peculiar.


Meu vício que me dá tanto prazer é ler cartas, escreve-las também, recebê-las nem se fala!


Mas as cartas alheias me fascinam como fascina imaginar o que tem dentro delas além das letras.
Sinto-me aquela mulher de cotovelos duros de calos de tanto se postar às janelas das almas de quem leio através das cartas.
Portanto, não pude deixar de me deliciar com CARTAS PERTO DO CORAÇÃO- dois jovens escritores unidos ante o mistério da criação , de Fernando Sabino e Clarice Lispector, ed. Record e o li exatamente quando me chegou às mãos, lá pra novembro de 2001.


Sim, já há um tempo que me despedi de sua leitura, mas leitura assim permanece em nosso coração, bem perto do coração porque o mistério da criação é algo que prende o ser humano há séculos, qualquer seja a criação e a criação de idéias é algo mágico, além de tudo que nos limite.
Idéias e emoções.. sem limites a não ser o limite que sem propósito nos impomos, o que é uma pena e um outro assunto que não abro aqui pra não perder o fio da meada de lindas cartas.

Veja um trecho da belezura destas cartas...esta de Fernando pra Clarice em agosto de 1946:

“Quando nossa vida inteira desde o nascimento até a morte, antes do nascimento e depois da morte é um milagre. Nós é que somos o milagre de Deus, porque estamos no mundo não como anjos decaídos, mas como homens – matéria da salvação. Quanto mais vivemos , mas nos perdemos e quando tudo estiver perdido estaremos salvos . Salvos pela humanidade em dizer: perdi. “

Ou de outra , dele mesmo para ela em 1953:

“ Começando de novo- só que não tenho mais dezessete anos, o que afinal não passa de uma constatação meramente literária. Tudo mais são vidas, como dizia um amigo meu que não morreu...”

E da parte de Clarice para Fernando, outubro de 1946:

“Estou aqui em pleno outono, e apesar de ser outono, apenas por ser “pleno”, tem o mesmo fulgor de primavera plena,de inverno pleno – a impressão que dá é que alguma coisa está madura.
Talvez sejam maçãs, que são redondas e vermelhas.”

E outra de Clarice para Fernando, em 1953:

“Fernando, foi ótimo receber carta sua. E o tempo se conta mesmo em anos. Deus me livre se fosse em dias. É como crescer ou envelhecer que só se vê em anos. Como é que se pode ver a curva tão larga das coisas se se está tão próximo como é próximo o dia? Pois se ás vezes a palavra que falta para completar um pensamento pode levar meia vida para aparecer...”

Bem, impossível não ler e viver através destas cartas o que foi escrito e vivido entre estes dois grandes escritores brasileiros.

Este é o convite desta vez, ler cartas e suas entrelinhas, viver a vida com todos os pontos e travessões, vírgulas, acentos etc, etc, etc!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

OS MORTOS NÃO DANÇAM VALSA - Roberto Drumond

Este livro foi o seguinte. Ninguém me indicou sua leitura.

Ele mesmo, oferecido que foi, quase caiu em meus pés, estava numa das prateleiras de um dos lugares que mais gosto deste mundo humano... uma livraria, mas não é uma qualquer, não...é daquelas de sonho que a gente torce pra chegar o dia logo de ir lá folhear livros, e sentir seus perfumes, permeados de conversas e café.

Falei deste local no outro blog...quem for curioso que dê lá uma chegadinha pra ler mais a respeito!

Foi lá pra dezembro de 2008,dia 19,mais precisamente, que escrevi sobre esta outra dimensão...o título do texto... “lugares que me recarregam neste dezembro de beijar flores” no:

http://lentasrapidasluzes.blogspot.com/

Bem, de toda maneira, é bem nas férias que a gente vira canibal, mas de livros, como isto se chamaria, não sei, mas quem souber que me conte!

Enfim, lembro-me de estar deitada na cama, lendo até o amanhecer para poder acabar logo o livro porque era muito bom de ler e porque gostaria muito de poder emprestá-lo para um amigo da porta ao lado.

OS MORTOS NÃO DANÇAM VALSA, de Roberto Drumond, da editora Objetiva este é o livro, a edição foi do ano que li mesmo, 2002.

O livro se dá como um louvor à vida e aos sonhos que podemos e devemos concretizar antes que a morte chegue...

Lu é a protagonista morta, o homem de óculos escuros, o protagonista vivo.

Não vou falar mais nada a não ser que ganhei uma madrugada lendo-o porque...

“Há coisas de que a gente se lembra tarde demais, Lu. Por que não dançamos uma valsa antes? Se todos soubessem realmente o que é viver, o mundo seria mais alegre.”

E mais...

O Tango tem razão: a maior de todas as reivindicações é o direito de ser feliz. O direito de ser alegre. Eu gostaria de gritar: a felicidade é a maior de todas as reivindicações humanas.”

São obviamente citações do livro.

Agora, leia, dance e viva feliz!


quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O CONTO DA ILHA DESCONHECIDA

Este eu me lembro até hoje quando fui apresentada a ele e o li.

Foi a beira de uma janela numa noite, só não sei mais se foi de inverno, verão, outono ou primavera... só sei que pequei pela pressa...


Mas, o que importa?

O CONTO DA ILHA DESCONHECIDA, de José Saramago, da Companhia das Letras é daqueles pequenos livrinhos de 62 páginas entremeadas com algumas aquarelas de Arthur Luiz Piza que fazem a diferença para quem os lê.


Para além das aquarelas e das letras, existe magia, sonhos, fantasias que nos fazem flanar como barcos flanam em ondas azuis , cada um em direção a sua e somente sua ilha desconhecida.

A outra vez que li este mesmo pequeno grande livro foi na outra ilha , a bela e aí deu-se uma contemplação diferente da primeira quando pude enfim, ler mais mansamente as opções da vida porque, mesmo estando numa ilha consegui enfim, sair de mim pois...

“ ...é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós, se não sairmos de nós próprios, queres tu dizer” – José Saramago.
Permitam-se visitar este conto ... e suas ilhas desconhecidas...



terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Rimas criadas entre vidas e mortes...

“ E estas são as principais perguntas: por que você escreve. Por que você escreve exatamente dessa maneira. Se você quer influenciar seus leitores. E se quer. E se quer - em que sentido tenta influenciá-los. Que função exercem suas histórias. Se você apaga e corrige o tempo todo ou deixa o texto fluir direto de sua inspiração.(...) você escreve à caneta ou usa um teclado? E quanto você ganha mais ou menos com cada livro? Você vai buscar material para suas histórias em sua imaginação ou na vida real? Suas histórias são autobiográficas ou ficcionais? (...) Existem respostas espertas e existem respostas evasivas. Respostas simples e diretas não existem.”

Este primeiro apanhado de reflexões do livro RIMAS DA VIDA E DA MORTE, de Amós Oz já foram o suficiente para me pegar em armadilha.

Armadilha esta que me deixei prender nestas e noutras suas reflexões enquanto o personagem principal, um escritor apresentado nas suas primeiras páginas imagina personagens e histórias complexas originadas nos encontros casuais de pessoas desconhecidas que vai encontrando em seu caminho.

Entre a garçonete que ganha nome e personalidade e ganha também uma história de romance com outro personagem imaginado, a todas as artimanhas que vão embolando personagens, pensamentos e sofrimentos humanos entre desejos e negações nos percebemos dentro de uma rede imaginária de recém criadas vidas que se entrelaçam com a vida do próprio escritor personagem.

Não tem como não se apaixonar pela narrativa.
Não tem como não beber sedentamente da fonte do interligado e complexo enlevo que um autor se propõe e nos propõe a cada linha escrita a cada reflexão do humano mais humano pensar.

Só lendo e vivendo cada passagem, cada interligação, cada pensamento, cada desejo e cada sofrimento deste livro é que se entenderá o caminho de um escritor como Amós Oz no que me parece uma brincadeira dele com sua própria escrita para conosco, já que seus outros livros respiram mais profundezas que este.

Porém, é necessário dizer que este citado livro me sugere o momento em que um autor se permite brincar de escrever sem perder sua capacidade de perceber o humano.

Participar desta brincadeira da criação me trouxe um quê imaginoso de intimidade com o autor, como se eu estivesse junto a cada linha surgida de novas características de seus personagens o que me fez prazer ler e viver através destas mesmas criações partilhando seus dramas que se tornaram (ou já eram) muito meus em muitas linhas.

Sincronicamente enquanto escrevo, revejo na tv o filme “Antes do por do sol”, que fala do tempo metafórico entre o nascer e o por do sol. Fala sobre encontros, desencontros e reencontros onde um dos personagens é um escritor. Mesmo que não seja o mote deste blog, denuncio este filme como um filme a ser visto lentamente, pensando nas conversas que podemos ter em reencontros desta vida, ou podemos nunca mais ter se continuarmos fugindo de nossos “acasos”.

Até porque como diz a Ruchale Reznik, personagem do livro citado:

“Eu por exemplo, já não acredito mais em acasos. Nos últimos tempos há momentos em que de repente tenho a impressão de que tudo que acontece- tudo mesmo, sem exceção...- mas não sei bem explicar. Não lhe parece às vezes que nada, nada mesmo, acontece por acaso?”

Agora endossada pela imagem do acaso que este escritor descreve através da sua personagem, volto ao meu convite a você para que leia e viva através das
RIMAS DA VIDA E DA MORTE, de Amós Oz, da Companhia das Letras e depois me conte o que achou!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Leio e vivo e pronto e ponto final ou travessão?

Vivo lendo e leio vivendo desde que me lembro gente. Não que eu seja gente como eu gostaria, gostaria de ser bem melhor do que sou, mas tento melhorar, juro que tento e uma das ferramentas que uso é a leitura.

Vivo lendo e leio vivendo. Torno-me tantas letras e tantas emoções que fico me perguntando por que raios não fui eu que escrevi aquelas linhas que dizem tanto ou tão pouco de mim?

Comecei lendo o que me davam na escola, em casa através das mãos do meu sábio pai, através das visitas a casa da vó também sábia, esta professora de formação.


Comecei também ouvindo causos da roça da minha linda mãe.

Livro vivo de ensinamentos e cultura brasileirissima.

Comecei lendo e testemunhando que vim de uma família que lê muito e há muito tempo e não só lê como escreve, como vi o livro da minha tia em sua estante e me disse que um dia o meu também estaria numa estante.

Minha proposta pra você é ler e viver comigo as linhas que li e vivi.

Ganhei dois livros, grandes livros para ler neste final de semana.

Ganhei na sexta. Sábado a noite já tinha devorado um deles.

Amós Oz.

Falo dele e deles na próxima.


Só adianto que rimar é algo mágico nesta vida.

RIMAS DA VIDA E DA MORTE- AMÓS OZ (Companhia das Letras) me chamou a atenção mesmo antes da morte fazer parte de um momento doído da vida da minha semana passada em diante.

Por isto, digo que leio e vivo e também vivo e leio.

Há sincronicidade nas letras vividas!

Este poderia ser o ponto final, mas parafraseando um amigo distante ou presente... chegamos então ao travessão!