sábado, 31 de janeiro de 2009

CARTAS PERTO DO CORAÇÃO- dois jovens escritores unidos ante o mistério da criação - Fernando Sabino , Clarice Lispectos

Confesso aqui o inconfessável. Eu tenho um vício, um mal hábito, digamos assim de modo mais leve.
Um não , mas vários, mas o confessável inconfessável será este, não abrirei os outros que ainda estão em plena auto avaliação nestes bons tempos de viver mais um dia nesta vida tão peculiar.


Meu vício que me dá tanto prazer é ler cartas, escreve-las também, recebê-las nem se fala!


Mas as cartas alheias me fascinam como fascina imaginar o que tem dentro delas além das letras.
Sinto-me aquela mulher de cotovelos duros de calos de tanto se postar às janelas das almas de quem leio através das cartas.
Portanto, não pude deixar de me deliciar com CARTAS PERTO DO CORAÇÃO- dois jovens escritores unidos ante o mistério da criação , de Fernando Sabino e Clarice Lispector, ed. Record e o li exatamente quando me chegou às mãos, lá pra novembro de 2001.


Sim, já há um tempo que me despedi de sua leitura, mas leitura assim permanece em nosso coração, bem perto do coração porque o mistério da criação é algo que prende o ser humano há séculos, qualquer seja a criação e a criação de idéias é algo mágico, além de tudo que nos limite.
Idéias e emoções.. sem limites a não ser o limite que sem propósito nos impomos, o que é uma pena e um outro assunto que não abro aqui pra não perder o fio da meada de lindas cartas.

Veja um trecho da belezura destas cartas...esta de Fernando pra Clarice em agosto de 1946:

“Quando nossa vida inteira desde o nascimento até a morte, antes do nascimento e depois da morte é um milagre. Nós é que somos o milagre de Deus, porque estamos no mundo não como anjos decaídos, mas como homens – matéria da salvação. Quanto mais vivemos , mas nos perdemos e quando tudo estiver perdido estaremos salvos . Salvos pela humanidade em dizer: perdi. “

Ou de outra , dele mesmo para ela em 1953:

“ Começando de novo- só que não tenho mais dezessete anos, o que afinal não passa de uma constatação meramente literária. Tudo mais são vidas, como dizia um amigo meu que não morreu...”

E da parte de Clarice para Fernando, outubro de 1946:

“Estou aqui em pleno outono, e apesar de ser outono, apenas por ser “pleno”, tem o mesmo fulgor de primavera plena,de inverno pleno – a impressão que dá é que alguma coisa está madura.
Talvez sejam maçãs, que são redondas e vermelhas.”

E outra de Clarice para Fernando, em 1953:

“Fernando, foi ótimo receber carta sua. E o tempo se conta mesmo em anos. Deus me livre se fosse em dias. É como crescer ou envelhecer que só se vê em anos. Como é que se pode ver a curva tão larga das coisas se se está tão próximo como é próximo o dia? Pois se ás vezes a palavra que falta para completar um pensamento pode levar meia vida para aparecer...”

Bem, impossível não ler e viver através destas cartas o que foi escrito e vivido entre estes dois grandes escritores brasileiros.

Este é o convite desta vez, ler cartas e suas entrelinhas, viver a vida com todos os pontos e travessões, vírgulas, acentos etc, etc, etc!

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

OS MORTOS NÃO DANÇAM VALSA - Roberto Drumond

Este livro foi o seguinte. Ninguém me indicou sua leitura.

Ele mesmo, oferecido que foi, quase caiu em meus pés, estava numa das prateleiras de um dos lugares que mais gosto deste mundo humano... uma livraria, mas não é uma qualquer, não...é daquelas de sonho que a gente torce pra chegar o dia logo de ir lá folhear livros, e sentir seus perfumes, permeados de conversas e café.

Falei deste local no outro blog...quem for curioso que dê lá uma chegadinha pra ler mais a respeito!

Foi lá pra dezembro de 2008,dia 19,mais precisamente, que escrevi sobre esta outra dimensão...o título do texto... “lugares que me recarregam neste dezembro de beijar flores” no:

http://lentasrapidasluzes.blogspot.com/

Bem, de toda maneira, é bem nas férias que a gente vira canibal, mas de livros, como isto se chamaria, não sei, mas quem souber que me conte!

Enfim, lembro-me de estar deitada na cama, lendo até o amanhecer para poder acabar logo o livro porque era muito bom de ler e porque gostaria muito de poder emprestá-lo para um amigo da porta ao lado.

OS MORTOS NÃO DANÇAM VALSA, de Roberto Drumond, da editora Objetiva este é o livro, a edição foi do ano que li mesmo, 2002.

O livro se dá como um louvor à vida e aos sonhos que podemos e devemos concretizar antes que a morte chegue...

Lu é a protagonista morta, o homem de óculos escuros, o protagonista vivo.

Não vou falar mais nada a não ser que ganhei uma madrugada lendo-o porque...

“Há coisas de que a gente se lembra tarde demais, Lu. Por que não dançamos uma valsa antes? Se todos soubessem realmente o que é viver, o mundo seria mais alegre.”

E mais...

O Tango tem razão: a maior de todas as reivindicações é o direito de ser feliz. O direito de ser alegre. Eu gostaria de gritar: a felicidade é a maior de todas as reivindicações humanas.”

São obviamente citações do livro.

Agora, leia, dance e viva feliz!


quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

O CONTO DA ILHA DESCONHECIDA

Este eu me lembro até hoje quando fui apresentada a ele e o li.

Foi a beira de uma janela numa noite, só não sei mais se foi de inverno, verão, outono ou primavera... só sei que pequei pela pressa...


Mas, o que importa?

O CONTO DA ILHA DESCONHECIDA, de José Saramago, da Companhia das Letras é daqueles pequenos livrinhos de 62 páginas entremeadas com algumas aquarelas de Arthur Luiz Piza que fazem a diferença para quem os lê.


Para além das aquarelas e das letras, existe magia, sonhos, fantasias que nos fazem flanar como barcos flanam em ondas azuis , cada um em direção a sua e somente sua ilha desconhecida.

A outra vez que li este mesmo pequeno grande livro foi na outra ilha , a bela e aí deu-se uma contemplação diferente da primeira quando pude enfim, ler mais mansamente as opções da vida porque, mesmo estando numa ilha consegui enfim, sair de mim pois...

“ ...é necessário sair da ilha para ver a ilha, que não nos vemos se não nos saímos de nós, se não sairmos de nós próprios, queres tu dizer” – José Saramago.
Permitam-se visitar este conto ... e suas ilhas desconhecidas...



terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Rimas criadas entre vidas e mortes...

“ E estas são as principais perguntas: por que você escreve. Por que você escreve exatamente dessa maneira. Se você quer influenciar seus leitores. E se quer. E se quer - em que sentido tenta influenciá-los. Que função exercem suas histórias. Se você apaga e corrige o tempo todo ou deixa o texto fluir direto de sua inspiração.(...) você escreve à caneta ou usa um teclado? E quanto você ganha mais ou menos com cada livro? Você vai buscar material para suas histórias em sua imaginação ou na vida real? Suas histórias são autobiográficas ou ficcionais? (...) Existem respostas espertas e existem respostas evasivas. Respostas simples e diretas não existem.”

Este primeiro apanhado de reflexões do livro RIMAS DA VIDA E DA MORTE, de Amós Oz já foram o suficiente para me pegar em armadilha.

Armadilha esta que me deixei prender nestas e noutras suas reflexões enquanto o personagem principal, um escritor apresentado nas suas primeiras páginas imagina personagens e histórias complexas originadas nos encontros casuais de pessoas desconhecidas que vai encontrando em seu caminho.

Entre a garçonete que ganha nome e personalidade e ganha também uma história de romance com outro personagem imaginado, a todas as artimanhas que vão embolando personagens, pensamentos e sofrimentos humanos entre desejos e negações nos percebemos dentro de uma rede imaginária de recém criadas vidas que se entrelaçam com a vida do próprio escritor personagem.

Não tem como não se apaixonar pela narrativa.
Não tem como não beber sedentamente da fonte do interligado e complexo enlevo que um autor se propõe e nos propõe a cada linha escrita a cada reflexão do humano mais humano pensar.

Só lendo e vivendo cada passagem, cada interligação, cada pensamento, cada desejo e cada sofrimento deste livro é que se entenderá o caminho de um escritor como Amós Oz no que me parece uma brincadeira dele com sua própria escrita para conosco, já que seus outros livros respiram mais profundezas que este.

Porém, é necessário dizer que este citado livro me sugere o momento em que um autor se permite brincar de escrever sem perder sua capacidade de perceber o humano.

Participar desta brincadeira da criação me trouxe um quê imaginoso de intimidade com o autor, como se eu estivesse junto a cada linha surgida de novas características de seus personagens o que me fez prazer ler e viver através destas mesmas criações partilhando seus dramas que se tornaram (ou já eram) muito meus em muitas linhas.

Sincronicamente enquanto escrevo, revejo na tv o filme “Antes do por do sol”, que fala do tempo metafórico entre o nascer e o por do sol. Fala sobre encontros, desencontros e reencontros onde um dos personagens é um escritor. Mesmo que não seja o mote deste blog, denuncio este filme como um filme a ser visto lentamente, pensando nas conversas que podemos ter em reencontros desta vida, ou podemos nunca mais ter se continuarmos fugindo de nossos “acasos”.

Até porque como diz a Ruchale Reznik, personagem do livro citado:

“Eu por exemplo, já não acredito mais em acasos. Nos últimos tempos há momentos em que de repente tenho a impressão de que tudo que acontece- tudo mesmo, sem exceção...- mas não sei bem explicar. Não lhe parece às vezes que nada, nada mesmo, acontece por acaso?”

Agora endossada pela imagem do acaso que este escritor descreve através da sua personagem, volto ao meu convite a você para que leia e viva através das
RIMAS DA VIDA E DA MORTE, de Amós Oz, da Companhia das Letras e depois me conte o que achou!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Leio e vivo e pronto e ponto final ou travessão?

Vivo lendo e leio vivendo desde que me lembro gente. Não que eu seja gente como eu gostaria, gostaria de ser bem melhor do que sou, mas tento melhorar, juro que tento e uma das ferramentas que uso é a leitura.

Vivo lendo e leio vivendo. Torno-me tantas letras e tantas emoções que fico me perguntando por que raios não fui eu que escrevi aquelas linhas que dizem tanto ou tão pouco de mim?

Comecei lendo o que me davam na escola, em casa através das mãos do meu sábio pai, através das visitas a casa da vó também sábia, esta professora de formação.


Comecei também ouvindo causos da roça da minha linda mãe.

Livro vivo de ensinamentos e cultura brasileirissima.

Comecei lendo e testemunhando que vim de uma família que lê muito e há muito tempo e não só lê como escreve, como vi o livro da minha tia em sua estante e me disse que um dia o meu também estaria numa estante.

Minha proposta pra você é ler e viver comigo as linhas que li e vivi.

Ganhei dois livros, grandes livros para ler neste final de semana.

Ganhei na sexta. Sábado a noite já tinha devorado um deles.

Amós Oz.

Falo dele e deles na próxima.


Só adianto que rimar é algo mágico nesta vida.

RIMAS DA VIDA E DA MORTE- AMÓS OZ (Companhia das Letras) me chamou a atenção mesmo antes da morte fazer parte de um momento doído da vida da minha semana passada em diante.

Por isto, digo que leio e vivo e também vivo e leio.

Há sincronicidade nas letras vividas!

Este poderia ser o ponto final, mas parafraseando um amigo distante ou presente... chegamos então ao travessão!