sábado, 15 de março de 2014

Silêncios e mudanças - Carmen Monteiro

Existem silêncios que deveriam ser ouvidos, 
mas
 infelizmente
 não o são.

 Mudo muda
 e ninguém parece perceber... 

Pecado momento santo - Carmen Monteiro

Vivo momentos de quase pecado por vê-los como momentos santos.
Mas, quem há de se preocupar ?... 
Hoje vivi a graça de mais um destes.
Nada demais deflagra algo imenso... Estratosférico...Amplo...nada de menos tampouco. 
Um filme, uma vida dedicada ao serviço, um livro, um poema, uma palavra amiga, um sol que se levanta ... Um sol que foge no horizonte... A chuva.. O vento.. A lua na janela... A estrela que chora.. Uma súplica, uma oração, um momento de silêncio meditativo, um sorriso, uma sede saciada... A fome que se cala em pão. Um bebê que nasce, um homem que morre. A planta, a flor, o fruto e a semente que refaz o ciclo... 
Um nem sei o que que deflagra um algo tão imenso, amplo, que segue de mim tocando a todos, me fazendo calçar os sapatos de alguns, viver as alegrias de outros.. 
É um êxtase de Amor, mas tanto Amor que por quase não viro eu mesma santa de mim ...compreendendo chagas, entendendo quem sofre e quem faz sofrer...
São nestes momentos que o perdão é palavra passada tanto quanto a mágoa pois , onde o Amor é, estes nem existem... 
Difícil de explicar este frio quente... Este cheio vazio... Pobre pra me explicar melhor... Digo que virei tudo e nada.. Virei santa... Mesmo que por um minuto até que numa vinda sem convite... O momento santo volte a mim como por encanto. Mas que fique anotado: de santa tenho nada...
 O momento é.

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Vida justa, amor e Amor... Carmen Monteiro

Que a vida é justa,ok,já me foi dito e repetido e também assimilado por mim, obviamente,com exceções e a escolha consciente é viver diante e apesar daquilo não programado.
Difícil prática.
Que o amor é estreito e o Amor é largo,ok também, sei disto na pele, nos ossos, com a idade e com conhecimento de um e ou desconhecimento de ambos, não sei...mas, saber e viver ainda tem muita distinção.
Que certos olhos me tocam, sim, foi um espanto até para mim que jurei , de pé junto, não me meter mais em relacionamentos de espécie alguma.
Todos os santos são testemunha que mesmo com sede, me prometi que desta água, nunca mais, foi quando pedi paz, Luz e centramento pra vida que os  filhos escolhessem viver, saúde para a família, ajuda pra quem precisa de solução difícil, enfim,pedi tudo isto e muito mais como também pedi sossego...
Que este sorriso ora me atrai, ora me entristece, ora me aborrece e ora me diz tanto deste ser ao mesmo tempo que nada sei... sim, isto deve ser parte da minha parte imaginosa de viver afinal, como um sorriso estático pode fazer surgir tantas faces  e tantos sentimentos revirando tantas águas ?
Vem uma hora  no dia que me digo, sim, a cada dia um dia a se viver, cada problema uma solução ou uma desistência ou entrega, a cada noite um sonho, uma insônia,um despertar, a cada refeição , uma escolha do que e quanto se come, a cada dia trabalhado a esperança de dias mais amenos ,a cada discussão a necessidade obrigatória de mais harmonia entre as pessoas , a cada dor do corpo, uma libertação da alma ,  a cada oração, um pedido de proteção à família, um por um lembrado dia a dia ,e a cada meditação um descanso em mim mesma num genuíno prazer.
Só que daí,como negar a porta ser escancarada, já que restou semi-aberta?
Como evitar o coração sorrir, a conexão se fazer e a imaginação se dar conta do quão livre  ainda se vive apesar das amarras da ilusão ?
Escolhido o momento, a vivência do desapego , a impermanência  , a paz e o Amor.
Eis que surge algo que começa a dar vontade que seja mais mesmo que se saiba na pele que nada é quando tudo é . Mesmo que também se saiba que nada do que serve aos homens, serve a Deus pois o Amor, aquele com letras maísculas sim, este é  largo é amplo, irrestrito e infinito e minha promessa foi deste Amor viver.

A roda da vida surge em cartas de tarot e novamente me lembra que tudo gira  sem parar,
... ciclos e ciclos de um tempo não linear que assolam a todos nós...

terça-feira, 19 de novembro de 2013

MEDITANDO COM CRISTAIS - CARMEN MONTEIRO

Fecho os olhos, compelida a meditar
E estes naturalmente expressam
A emoção inconsciente
Lágrimas de gratidão
Sou você e você Sou eu
Unos
Vejo mundos que desconheço
Flores
Mulheres vestidas de véus cor de ocre
Cobrindo suas cabeças
Um pé masculino
Uma massagem de cura
Reverência
Cenas múltiplas
Pulsões de Amor
Infinito tempo
Invasão na real ilusão
Nada importa
Sou Amor
Sou infinito
Sou lágrima
Sou flor
Sou plenitude em mim
Sou você
E você sou eu

Infinitos...

foto Carmen Monteiro dezembro 2009

quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Levo os sapatos e mais... por Carmen Monteiro

Olho pra baixo e lá estão novamente desamarrados, andando em corredores brancos de limpeza obrigatória, enquanto seus solados só fazem barulho e rastros pelos chãos imaculados.
Olho pra baixo e penso que deveria ter trocado os sapatos por algo mais confortável e menos barulhento, pois me incomodam sapatos que me embrutecem o caminhar.
"Basta a vida" é o que me vem à mente, mas pensando melhor, estou sendo dura com a vida que nem tem sido tão dura assim, não comigo, não posso reclamar, o problema é ela ser dura com os que estão à minha volta, pois esta é uma situação que não deixa de doer em mim.
Então, em adição à toda dor, lá estão estes sapatos, como extensões de meus pés, sapatos duros, barulhentos, um tanto sujos da lama feita da última pancada de chuva fora no caminho mal pavimentado até aqui.
Sei bem que o problema não são os sapatos, raramente são os sapatos o grande problema.
Porém, recorrer a culpa aos sapatos é mais um modo infantil de lidar com a dor que sinto por não poder exinguir a dor de quem sofre neste instante.
Um recebe o diagnóstico inesperado de doença grave no mesmo dia em que deveria estar no casamento da filha.
Mas que dia pra saber de um nome exato dos sintomas que vem sentindo há tantos meses! Não poderia ter piorado aquele pouco mais, dias depois? O que motivou a criação deste instante nesta vida?
Outro sente a solidão da palavra que não consegue articular. fico imaginando como será pensar e não ouvir sua própria voz. Pergunto se anda recebendo visitas da família, só pra ter o que me comunicar com ele e ter um leve entendimento do que ele ta´mbém anda absorvendo do que vive. Ele responde com os olhos vazios que sim, recebe visitas enquanto sei que a realidade é outra ao mesmo tempo penso se não serão os anjos que o visitam, afinal, eu creio em anjos.
Digo que amanhã estarei novamente com ele e que espero vê-lo melhor, mas quanto melhor poderá ficar sem conseguir verbalizar o que sente? Neste instante o que ele passa é também um pouco do que passo muitas vezes.
O outro se vê inválido em situação melhor, pois é temporária sua limitação, mas longa, o que não lhe dará outra alternativa a não ser aguardar com a paciência , que já demonstrou falência, aos longos de tantos meses acamado aguardando que seus ossos se acertem com a infecção surgida.
Falo da importância de ter algo mais a fazer além da televisão e das revistas. Saio pensando o quanto a cama incomoda e aquece as costas já aquecidas e limita particularmente o homem que não quer se reinventar quando o momento surge.
Enquanto entro e saio de quartos e vidas, os sapatos me seguem, desamarrados, ou quase, barulhentos, mas nem tanto, sujos, apesar de tê-los limpado no antigo capacho da portaria principal.
Levo junto os sapatos e as vidas que visito.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

A espada de Miguel, por Carmen Monteiro

A espada de Miguel

O fato era o seguinte, a espada de Miguel era sua última esperança de mudança.
Já tinha tentado de tudo o que pudesse para que algo se movimentasse.

Acabou a manta inacabada.

Aqui abrir um parênteses é necessário:

Sentia a sua incapacidade a cada visita da manta em suas mãos doídas de frio e saudade
cada inverno que ia e vinha...
Tudo bem,
ela não desmanchava a tal manta a cada ano,
como em histórias de mitos.
Contudo,
era como se isto ocorresse,
tamanha a lentidão
para chegar ao fim do trabalho.
Quase fez promessa,
mas não foi preciso.
Tomou coragem e muita água da fonte
e acabou a manta.
Fez promessa consigo mesma
para ser feliz.
Fecha-se aqui um longo parênteses.

Plantou árvore e ainda viu os frutos crescerem.
Viu os frutos sendo comidos e
ainda previu a morte da árvore amiga.
Ninguém a ouviu e ela não teve forças para defender,
nem a árvore, muito menos a si mesma e assim,
a morte da amiga árvore se deu em pouco tempo depois.
Um pouco dela se foi ali, mas ninguém se deu conta.
Plantou no lugar de marias-sem-vergonhas,
inúmeras impatiens, primas mais elegantes e nobres,
tão coloridas quanto, mas com muito mais vontade essencial de pressa e mudança.
Porém, de nada adiantou.
As impatiens ali se aquietaram, floresceram, adormeceram
e se foram, tão coloridas como surgiram em suas caixas de mudas. Fez pão, parou de fazer pão.
Fez mudança de hábitos, e destes não abriu exceção em suas convicções.
Chamou Deus, São Longuinho, Maria, chamou tantos santos e anjos quanto seu coração se lembrasse e do quanto poderia trazer de suas memórias de menina.
Isto adiantou muito, mas não pra ela exatamente ou diretamente, isto adiantou foi pra muita gente e ali ela viu o poder de dar esperança a quem se perdeu no meio de caminhos desacertados.
Ali, ela sentiu o poder do amor que transforma e nisto ela era fiel.
Foi procurada por uns, procurou por outros e deu com a cara na porta.
Teimosa que foi, insistiu, porque afinal, era brasileira e não desistia nunca, o que afinal, era uma grande bobagem de politicada, mas ela, mesmo assim, tentou, porque acreditava na mudança e no respeito que ainda via nas relações.
Fez-se candidata do Universo, abriu-se para mudanças, percebeu a lentidão dos tempos em sintomas que seu corpo cansado, apresentou.
E aí, sem mais acreditar em nada, se manteve acreditando, pois sem acreditar não haveria porque viver e a vida era bela, mesmo assim, cheia de detalhe e digna de celebração.
E então, seguiu para a última tentativa.
A espada era grande, fálica e libidinosa se assim a pscicanálise a visse, mas ao mesmo tempo era espada e tinha função de corte. Ali embutida a sua falta de resignação e revolta pois, menina que era se contrariava em ter que pedir a tão grande homem ajuda em seus problemas.
A vontade de vida mais leve e plena a fez se manter na convicção.
Pediu com o coração todo o corte negativo que a mantinha na dor.
Pediu libertação, pediu melhora e principalmente melhora pra si mesma como ser e isto porque queria ter a esperança de ser amada por si mesma um dia e para ser amada havia de mudar, não tinha mais como adiar o que em outras vidas ela tinha tanto potencial de incendiar mudanças.
A espada luminosa se apresentou, Miguel, mais enorme que sua própria casa sorriu e manteve sua determinação:
o que pediu , será feito!
Sentiu daí leveza em seu corpo.
Os cordões negativos que a mantinham ligada a tantas outras pessoas e situações eram tão densos que pesavam em seu físico.
Viu-se leve e feliz.
Mas felicidade assim, dura pouco, o movimento de corte movimenta placas, movimenta terras e águas.
Sua felicidade e leveza era dor no corte do vício.
Pior que isto, o que pedia a Deus que fosse negativo, surgiu como algo mais fortemente insano e amado, era até capaz de ver o que naturalmente, não era passível de se perceber na luz do dia.
Era um cordão azul luminoso, de uma sutileza tão leve e forte se assim pudesse haver na Terra algo tão contraditório que nem ela mesma não tinha como absorver um entendimento. Era intenso e notadamente neutro, como era aquele sentimento verdadeiro, que nem tinha coragem de nomear.
Ao mesmo tempo, a revolta era tamanha em sua alma, pois com o corte, a principal meta era se livrar do danado que, de tão distante, se manteve também, o quanto pôde, absurdamente surdo e cego e mudo.
A certeza deste cordão sobrevivente era então, em vez de liberdade, dor,
porque percebeu que nem Miguel era capaz
de romper com sua espada o que mesmo apesar das aparências era, na verdade, não corruptível.
“E agora, Miguel?
Que faço eu, se você cortou minha última esperança?
A manta não tenho mais como continuar.
Volto então, a plantar flores, amassar pães, chamo novamente por todos os santos quantos haja neste Universo?
Aguardo a boa vontade de quem não mais enxerga a ponta de seu nariz, aquele que, sem óculos, não é mais capaz nem de pagar a conta de suas compras?
Mantenho a instigar a esperança mesmo sem acreditar na minha esperança?”
Por esta, ela não esperava, Miguel.
Nem eu.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O AZUL LHE CAI BEM , de Carmen Monteiro

O azul lhe cai bem, aliás, sempre lhe caiu.

Mangas longas também, dão muito aquele ar de respeito que tanto quer.
E assim, mesmo sem terno e gravata, você sempre se coloca aquém de qualquer contato, portanto, consegue seu intento em punhos cobertos.

O azul lhe veste bem, sempre foi assim, foi antes e será depois, bem depois que tenhamos todos morridos pela falta de fé num caminho mais ameno a seguir juntos, todos nós.

O azul lhe cobre bem, como o manto de Maria, que peço tanto que lhe acolha em todos os momentos de dor, raiva, amor e negação, minha e sua.

Sinto que Maria está mais próxima a você vestido assim de azul.

Mais próxima que eu mesma possa estar.

Que seja Ela sua guia, sua protetora e sua confidente em todas as horas de todos os momentos em que, no meio de tanta correria e referida ocupação você possa, enfim, pedir conselhos internos.

O azul lhe cai bem, aliás, sempre lhe caiu.

Pena que mesmo de azul você ainda não tenha olhos para ver quanto o azul lhe faz bem e forte pra quebrar tantos limites desnecessários aos quais se impôs.

Sorte que o azul sempre me inspira.

Pelo menos isto, nada e nem ninguém, teve forças de negar pra mim.

Nem eu mesma.