terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Rimas criadas entre vidas e mortes...

“ E estas são as principais perguntas: por que você escreve. Por que você escreve exatamente dessa maneira. Se você quer influenciar seus leitores. E se quer. E se quer - em que sentido tenta influenciá-los. Que função exercem suas histórias. Se você apaga e corrige o tempo todo ou deixa o texto fluir direto de sua inspiração.(...) você escreve à caneta ou usa um teclado? E quanto você ganha mais ou menos com cada livro? Você vai buscar material para suas histórias em sua imaginação ou na vida real? Suas histórias são autobiográficas ou ficcionais? (...) Existem respostas espertas e existem respostas evasivas. Respostas simples e diretas não existem.”

Este primeiro apanhado de reflexões do livro RIMAS DA VIDA E DA MORTE, de Amós Oz já foram o suficiente para me pegar em armadilha.

Armadilha esta que me deixei prender nestas e noutras suas reflexões enquanto o personagem principal, um escritor apresentado nas suas primeiras páginas imagina personagens e histórias complexas originadas nos encontros casuais de pessoas desconhecidas que vai encontrando em seu caminho.

Entre a garçonete que ganha nome e personalidade e ganha também uma história de romance com outro personagem imaginado, a todas as artimanhas que vão embolando personagens, pensamentos e sofrimentos humanos entre desejos e negações nos percebemos dentro de uma rede imaginária de recém criadas vidas que se entrelaçam com a vida do próprio escritor personagem.

Não tem como não se apaixonar pela narrativa.
Não tem como não beber sedentamente da fonte do interligado e complexo enlevo que um autor se propõe e nos propõe a cada linha escrita a cada reflexão do humano mais humano pensar.

Só lendo e vivendo cada passagem, cada interligação, cada pensamento, cada desejo e cada sofrimento deste livro é que se entenderá o caminho de um escritor como Amós Oz no que me parece uma brincadeira dele com sua própria escrita para conosco, já que seus outros livros respiram mais profundezas que este.

Porém, é necessário dizer que este citado livro me sugere o momento em que um autor se permite brincar de escrever sem perder sua capacidade de perceber o humano.

Participar desta brincadeira da criação me trouxe um quê imaginoso de intimidade com o autor, como se eu estivesse junto a cada linha surgida de novas características de seus personagens o que me fez prazer ler e viver através destas mesmas criações partilhando seus dramas que se tornaram (ou já eram) muito meus em muitas linhas.

Sincronicamente enquanto escrevo, revejo na tv o filme “Antes do por do sol”, que fala do tempo metafórico entre o nascer e o por do sol. Fala sobre encontros, desencontros e reencontros onde um dos personagens é um escritor. Mesmo que não seja o mote deste blog, denuncio este filme como um filme a ser visto lentamente, pensando nas conversas que podemos ter em reencontros desta vida, ou podemos nunca mais ter se continuarmos fugindo de nossos “acasos”.

Até porque como diz a Ruchale Reznik, personagem do livro citado:

“Eu por exemplo, já não acredito mais em acasos. Nos últimos tempos há momentos em que de repente tenho a impressão de que tudo que acontece- tudo mesmo, sem exceção...- mas não sei bem explicar. Não lhe parece às vezes que nada, nada mesmo, acontece por acaso?”

Agora endossada pela imagem do acaso que este escritor descreve através da sua personagem, volto ao meu convite a você para que leia e viva através das
RIMAS DA VIDA E DA MORTE, de Amós Oz, da Companhia das Letras e depois me conte o que achou!

2 comentários:

  1. QUERIDA CARMEM, NUMA COISA EU ACREDITO NA SUA TOTALIDADE... NESTA VIDA NADA É POR ACASO...
    ESTA É UMA FIRME CONVICÇÃO MINHA... ADOREI O TEU TEXTO DESTE LIVRO QUE NÃO CONHEÇO... UM GRANDE ABRAÇO DE CARINHO,
    FERNANDINHA

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  2. obrigada, Fernanda, espero que possamos usufruir de boas leituras juntas!
    carinho tb!

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